História
A história de Québec: a primeira tentativa de colonização (Charlesbourg Royal)
Os Franceses fazem uma primeira tentativa de colonização do Canadá através do forte Charlesbourg Royal onde hoje é Québec. Conheça essa história.
Em 23 de Agosto de 1541, depois de meses navegando contra o vento, Jacques Cartier finalmente chega ao Havre de Saint-Croix (hoje rio Saint-Charles, Québec), onde alguns anos antes ele havia montado um pequeno forte que servira de base durante o inverno. Essa região, como vimos, era o local de Stadaconé (ou Stadacona) – vila indígena antes comandada por Donnacona. Como vimos também, Donnacona foi levado à força para a França e quem começou a liderar a vila foi seu inimigo, Agona.
Notícias da França
Ao receber os franceses, Agona pergunta sobre aonde estava Donnacona e os outros indígenas. Jacques Cartier conta então que Donnacona havia, infelizmente, falecido na França. No entanto, decide mentir a respeito dos outros, falando que eles quiseram ficar na França pois haviam construído uma nova vida lá e eram considerados senhores na Fraça. Não sabemos ao certo se os indígenas de Stadaconé acreditaram. Segundo os relatos de viagem, ao saber da morte de Donnacona, Agona não demonstra nenhuma reação. O encontro termina por uma troca de presentes.
Sabemos, no entanto, que a relação com os indígenas não seria mais a mesma. Os indígenas ficariam muito desconfiados dos europeus. Por causa da crescente tensão entre Cartier e os habitantes de Stadacona, decide-se que ali (onde hoje fica o Parque Nacional Cartier-Brébeuf, no bairro de Limoilou) não seria o melhor local para implantar uma colônia. Jacques e seus homens decidem continuar o percurso no rio Saint-Laurent.
Um local para a colônia
Ao subirem o rio Saint-Laurent, Cartier analisa bem o território para encontrar um bom local. Finalmente, ele chega em um local onde era o encontro do Rio Saint-Laurent com outro rio, o Cap-Rouge.
Jacques Cartier julga que ali é o local ideal para ancorar os navios. Além do mais, o local oferecia uma área plana próxima a uma pequena montanha, um local estratégico para um forte.
Logo que chegam, os habitantes da nova colônia tratam de instalar a artilharia. Eles temiam um ataque surpresa por parte dos Iroqueses. Dois dos navios deveriam voltar para a França – só estavam fazendo o frete, por assim dizer. Então, de 27 de agosto até 2 de setembro, eles tratam de desembarcar algumas coisas ou de transferir outras para os outros navios que ficariam ali.
Os vários especialistas que vieram na viagem começam seus trabalhos. Os agricultores logo começam uma plantação – “repolho, nabo, alface”. Os carpinteiros erigem dois fortes: um na planície, perto do rio e outro na pequena montanha, para proteger o primeiro. O local recebe então o nome de Charlesbourg Royal, em homenagem ao filho do rei François I, Charles.
Tão falso como Diamantes do Canadá
Logo os exploradores encontram o que achavam serem pedras preciosas, ouro e diamantes. Ficam muito felizes. Carregam os barcos com elas. Mais tarde, ao voltarem para a França, descobriram que o que encontraram era nada mais do que Pirrita de Ferro, ou ouro-de-tolo. E o que achavam ser diamantes eram, na verdade, quartzo. E assim nasceu uma expressão dita até nos dias de hoje: “faux comme diamants de Canada” (“falso como diamantes do Canadá”).
O primeiro ano da colônia
Não sabemos muito sobre o que aconteceu entre 1541 e 1542 na nova colônia. Pelos relatos dos espanhóis e portugueses, que tiveram contato com os indígenas de Terra Nova, sabemos que cerca de 35 pessoas de Charlesbourg Royal haviam sido mortas pelos índios Iroqueses em diversas batalhas. Também sabemos que haviam histórias de maltrato por parte de Jacques Cartier à diversos indígenas – a relação de Cartier com os indígenas só deteriorava. Ou seja, durante esse primeiro ano, Charlebour Royal teve que lutar para sobreviver por causa do frio, por causa da falta de alimentos e por causa dos ataques Iroqueses.
Um desastroso desencontro
Roberval demorava. Era para ele ter chegado há muito tempo, mas nada dele. Isso complica ainda mais as coisas. Será que Roberval virá? Será que teriam recursos para enfrentar mais ataques? Será que teriam alimentos?
Jean François de la Roque (Roberval) ainda estava procurando recursos para poder equipar melhor seus navios. Em 16 de abril de 1542 ele finalmente consegue terminar o que queria e parte do porto de La Rochelle, França. Ele sai com três navios e 200 pessoas. Segundo os relatos, eram “homens e mulheres e diversos cavalheiros de qualidade” (nobres). Em 8 de junho eles lançam âncoras no porto de Saint-Jean, em Terra Nova, onde já haviam 17 navios de pesca.
No início de junho de 1542, cansado de tanto esperar, Jacques Cartier decide voltar à França com todos. Ele pega todo mundo e sai com os três navios, voltando para a França. Entre 15-17 de junho de 1542, Cartier se encontra com Roberval em Saint-Jean. Jacques Cartier faz então seu relatório ao seu superior, apresentando também “as pedras preciosas”, que ele levaria para a França. Ele também explica que, com seu pequeno contingente, ele não conseguiria resistir mais tempo aos ataques iroqueses e por isso havia abandonado o local.
Roberval ordena então a Cartier que retornem, junto com ele, e cumpram a missão de estabelecer a colônia. No entanto, em 19 de junho de 1542, durante a noite, Jacques Cartier e uma parte do seu pessoal fogem, e retornam para a França, chegando em Saint-Malo no início de setembro de 1542.
France-Roy – a colônia de Roberval
Em 30 de junho de 1542 Roberval sai do porto de Saint-Jean. Cerca de um mês mais tarde, Roberval chega finalmente ao posto desertado por Cartier. Aparentemente, ao sairem de lá, Cartier havia destruído ou desmontado o forte. Sendo assim, segundo os relatos, eles levantam novamente dois fortes, um aos pés da montanha e outro perto do rio, como antes. O forte na montanha tinha as seguintes características: “dois alojamentos principais, uma grande torre e uma outra [construção] de quarenta por cinquenta pés de medida (talvez 12 x 15m) onde havia diversos quartos, uma sala, uma cozinha, escritórios, adegas altas e baixas e, próximo a esses, um forno e moinhos, bem como uma lareira para aquecer as pessoas.” Já o forte na planície, ao lado do rio, segundo o relato, era assim: “uma torre de dois andares com dois alojamentos principais“.
Segundo o historiador Jacques Lacoursière, “durante o mês de agosto, cada um se ocupa de sua especialidade”. Além disso, dois navios retornam a França. O objetivo é que, no próximo ano, eles retornem com mantimentos. Também é nessa época que Charlesbourg Royal recebe um novo nome, France-Roy.
Dificuldades
Lembrem-se que estamos no mês de agosto, iniciando setembro. Já não é mais verão em Québec – é outono. No final de outubro já começa a nevar em Québec. Eles tem pouco tempo para conseguir plantar algo para o inverno.
Roberval, ao contrário de Cartier, consegue ser mais diplomático com os indígenas e se dá bem com eles. Há menos conflitos. No entanto, por não conseguirem cultivar muito alimento até o inverno e por Roberval ainda não ter tido experiência com o Inverno da Nova França, a coisa fica ainda mais complicada. Começa a faltar alimento. Logo Roberval impõem o racionamento de comida.
O inverno chega com tudo novamente. O escorbuto também. As pessoas começam a ficar fracas, perder os dentes, caírem no chão por não terem forças nas juntas. Cerca de 50 pessoas morrem. O caos começa a se instalar na colônia. Roberval usa seus poderes conferidos pelo rei para julgar um ladrão. Há brigas e até mesmo um assassinato. Michel Gaillon é enforcado por roubo – ele se torna a primeira pessoa a sofrer a pena capital legalmente no Canadá. Alguns são aprisionados e outros são açoitados.
A tentativa de colonização dá errado! Em setembro de 1543 Roberval decide repatriar todos sobreviventes à França. Somente no século seguinte é que finalmente teríamos uma nova Colônia na Nova França – Québec.
Sítio Arqueológico Cartier-Roberval
Recentemente foram encontrados restos arqueológicos do local onde ficava o que então passou a ser conhecido como Forte Cartier-Roberval. Quer saber mais sobre essa história. Assista ao vídeo abaixo onde entrevistei a arquiteta brasileira radicada no Canadá, Mônica Bittencourt, responsável pelo projeto de revitalização do local.
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Bibliografia
. Livro Histoire Populaire de la Nouvelle France. Edição EPUB de 2019. Escrito por Jacques Lacoursière.
. The Canadian Encyclopedia. Disponível em: thecanadianencyclopedia.ca.
. Diversos artigos da Wikipedia em francês e inglês.
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